segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
Por que todos os meus sentimentos não chegam sozinhos e intensos como eu mesma sou? Não sei porquê a paixão me veio junto com o medo de te perder. Pois foi no momento que te encontrei que eu te perdi (sem nem mesmo chegar a ter). Sim, até o amor que poderia nascer vem fadado a ser acompanhado dessa rima pobre que se chama dor.
Estou cansada dos meus próprios dramas: eu olho pra trás e procuro os sonhos e tudo o que eu era (ou pensava ser) mas não tenho mais lembranças do passado nem vestígios do que sonhei em me tornar. No fundo, me sinto a adolescente que nunca fui: perdida, sozinha, assustada e sem saber o que fazer; olho pra trás para tentar descobrir o que perdi ou onde perdi e não consigo obter respostas.
Eu perco o sono desenhando seu rosto em minha retina, refaço teus gestos em tatuagem no meu corpo e decoro em versos sua voz a me sussurrar que “o amor não tem pressa, ele pode esperar”. Assim eu ainda penso que em algum lugar do futuro poderemos desfazer esses nós e refazer esse “nós” que nunca chegou a existir. Minha tentativa de me afastar foi em vão, só me fez perceber a falta que você me faz.
A cada partida, meu coração se quebra e eu fico tentando achar respostas catando os pedaços. A cada volta algo se perde no caminho e já não sei mais o que sobrou de mim, mas desisti de querer de volta. Eu só queria dividir essa chuva fina que cai agora com você, mas ela carregou nossos planos sem conseguir apagar o passado. Se junto com a terra que escorre na calçada ela apagasse tudo o que nos impediu de seguir, aí talvez teríamos uma segunda chance. Mas, não posso consertar o passado então eu peço que você me ensine o caminho para o futuro. E que você venha comigo.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Chove agora. E chove forte. Todas as lágrimas que não posso chorar caem lá fora neste momento. A tempestade que eu temia agora me encanta. Ouvi dizer que a chuva lava a alma, mas mesmo que atravessasse a cidade enfrentando meus medos, a chuva não apagaria toda a dor deste momento. Já passa das três. É tarde. Tarde demais para esquecer e perigoso demais para lembrar. E eu não gosto do perigo, não quando não tenho um lugar seguro para voltar. E não há lugar seguro no meio da tempestade em que estamos. Eu choro e você não percebe, minhas lágrimas não são reais e que diferença faz se tudo o que você amou em mim eram mentiras. As mesmas mentiras que nos separaram. Eu me cansei dos seus paradoxos. Você sempre soube que comigo era tudo ou nada. E eu escolho tudo, toda a intensidade das coisas. Assim eu vejo que o paradoxo se aplica a mim: eu não consigo abandonar a segurança que eu sempre precisei, sempre quis, sempre tive mas que agora me sufoca e faz gritar por socorro, liberdade, profundidade e tudo o que for inesperado. Sim, o paradoxo sou eu. Tudo o que sempre te acusei de ser era na verdade o meu próprio reflexo. Deve ser por isso que não posso mais ser eu mesma. Preciso me perder de mim, só não estou certa se depois disso ainda vou querer me encontrar.
Na manhã seguinte, quando acordei, era como se algo tivesse sido tirado de mim. Ela me deixou só com a imagem do seu belo rosto, um par de meias finas esquecidas no chão do banheiro e uma incerteza cravada no peito. E dói. Como dói. Não posso ser culpado da minha tentativa frustrada de ser feliz ao menos por um instante. Não foi fácil, não tenho forças suficientes para lutar contra a paixão. Sinto saudades do seu sorriso e do meu riso quando ela está por perto. E eu que sempre tive tudo o que quis, pela primeira vez experimentava a sensação de algo me ser tirado à força. Eu que sempre ia embora deixando um coração partido, sinto o meu se quebrar aos poucos a cada ausência dela. Eu que estava acostumado a ganhar, sinto todos os planos traçados numa madrugada de um quarto de hotel se escorrendo por entre meus dedos sem que eu possa lutar, não tenho mais forças. Dela só restou uma fotografia meio borrada. De nós, nunca houve algo que pudesse restar.
sábado, 12 de setembro de 2009
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Entre um café e um cigarro
Silêncio. O tic-tac do relógio anuncia que são 20 horas e 48 minutos. Ela ouve passos lá fora e caminha silenciosamente em direção à porta quando três fortes batidas a assustam. Nem é preciso abrir para reconhecer a força daquelas batidas. Ela abre a porta enquanto ele joga o cigarro no chão, esmagando-o com os sapatos surrados. Levanta os olhos e parece que vai balbuciar algo, um “boa noite”, talvez, mas não diz nada. Nem ela. As palavras não se formam. São apenas um emaranhado de letras dentro da boca que não conseguem se encontrar. Num gesto, ela o convida a se sentar. A cadeira balança um pouco a cada movimento. “Tem que mandar consertar” – ele diz. Ela oferece um café. “Acabou o açúcar” – lembra. Ele diz que não tem importância. Os minutos se arrastam nos tic-tacs do velho relógio – lembrança da avó. O tempo parava quando ele enchia a casa com seus ruídos, cada segundo parecia eterno, os momentos divididos, as músicas cantadas juntos, as roupas misturadas no guarda-roupa e o cheiro dele sempre impregnado nas suas coisas. Agora o tempo se arrasta não importa onde ele esteja, a casa não tem mais o mesmo cheiro, não há CDs espalhados, ela nem se lembra mais do som da gaita que ele costumava tocar. Ele brinca com a xícara, e ela não sabe se deve se sentar. O silêncio tão habitual, hoje incomoda e ela desesperadamente procura as palavras que por todos esses anos ela tentou organizar, esperando o dia em que ele voltasse.
E havia tanto a ser dito, todas aquelas coisas que estavam na ponta da língua, pareciam tão óbvias, mas ele não poderia ver. Talvez estivesse perto demais, ou longe demais, ela nunca sabia ao certo. Ela só queria que ele soubesse que aquele poema escrito a lápis no caderno cor-de-rosa (aquele que diz “Te li no meu romance, te escrevi, te derreti no ardor dos meus sonhos…”) era da Elisa, mas a Elisa sabia que era pra ela dizer no ouvido dele no meio da noite. Porque ele é o único destinatário dos seus sussurros noturnos ao observar a lua se esconder por trás dos edifícios. E ela só queria deitar em seu peito, e escutar baixinho uma canção dos Beatles, tocar gymnopedies no piano, e cantar baixinho aquela velha canção do Neil Young e depois que ele cantasse para ela uma de Vinícius.
A campainha toca novamente. Ao abrir os olhos ela percebe que o que ela pensou ser a campainha era, na verdade, o despertador. E mais uma vez ela enxuga a lágrima fina de seus olhos e se levanta para um novo dia.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Marina e o Cinema
Marina tinha uma paixão secreta. Na verdade, sete. E, todos os dias, no mesmo horário, religiosamente, ela tinha seus encontros secretos – alguns nem tão secretos assim. A cada dia uma nova fantasia, um novo amante, um novo destino.
Aos domingos, Marina vivia à francesa, mudava seu nome para Delphine e gostava de usar vestidinhos de cores claras. Lembravam um pouco sua infância, quando a mãe a vestia e penteava para a missa de domingo. Agora os tempos são outros (Marina não vai mais à missa), mas seus vestidinhos ainda a fazem se sentir apenas uma garota romântica, dançando pelas ruas de Paris e, às vezes, cantando sem perceber.
Às segundas, Marina gostava que lhe chamassem Holly, ou Mrs. Golightly. Ela tinha um gato, que não tinha nome, mas era sempre boa companhia. Usava longos vestidos pretos, luvas e pérolas, sempre achando que a vida era uma festa. Caminhava com a leveza de quem come croissant na Quinta Avenida. Brincava de ser boneca. De luxo, claro.
Em alguns dias Marina se cansava de seu romantismo, isso acontecia geralmente às terças. Ela abria o guarda roupa e escolhia, entre os seus vestidos, o que lhe parecesse mais provocante. Nestes dias, Marina era pura sensualidade em seus banhos demorados, perfumes marcantes, leves movimentos - sempre provocantes - tão natural em sua inocência que Marina despertava olhares ínvidos e ávidos no seu leve caminhar, como de quem flutua.
Na quarta-feira ainda havia muita sensualidade em Marina, somada a uma inocência quase infantil. Atendia pelo nome de Juliete Hardy e, apesar de parecer apenas uma garota meio perdida, talvez indecisa, ou somente jovem demais, podia chocar uma cidade inteira como tanta segurança no seu caminhar e tantos desejos no seu olhar.
Quinta-feira era um dia de trabalho para Marina. Era um dia em que não fosse seu sorriso encantador, perderia todo o seu charme feminino dentro de uma calça escura e uma camiseta. Vendia uns exemplares de um jornal local no centro da cidade mas, Marina sonhava mesmo que gritava “New York Herald Tribune” em plena Champs Elysées.
Marina tinha um jeitinho de princesa, todos concordavam quanto a isso mas, às sextas, Marina se sentia uma rainha, como Christina na Suécia. Bem, ela podia nunca ter estado lá, mas tinha certamente uma força no olhar, segurança em seus atos, uma melancolia talvez ou, simplesmente, garbo.
Tinha também um ar de mistério, típico das francesas, especialmente aos sábados, quando ela gostava de se aventurar pelas estradas – na maioria das vezes acompanhada de um homem de terno cinza que fumava demais – viver sem preocupações, mas sempre com intensidade. Deve ser por isso que nesses dias seu nome era Renoir. Marianne Renoir.
Assim me disseram ser Marina. Vivia tantas estórias, aventuras e vidas que não a pertenciam, mas alimentavam o seu ser. Os filmes lhe invadiam alma com tanta força que lhe faziam esquecer quem era e ir viver dentro de uma tela de cinema.