sábado, 12 de setembro de 2009

Naquela noite saí de casa por impulso. Não encontrei as chaves e deixei a porta do apartamento aberta. Não me importaria se não retornasse: deixar o passado, o presente, não pensar no futuro, a única pretensão era andar sem rumo a observar céu, gente, carros, cores e sons da madrugada que se misturam até se tornarem indecifráveis. Uma parada para comprar cigarros e quem sabe a esperança de que algo inesperado acontecesse naquela noite em que fuga, mudança, desejo de liberdade e algumas doses de vodka me guiavam madrugada adentro. Entrei no primeiro clube que me pareceu lotado o suficiente para me esconder no meio da multidão, e esperar que alguém me salvasse como no final de um conto de fadas. Enquanto meus olhos atordoados percorriam os rostos das pessoas senti mãos leves a me tocar: as suas mãos. Era uma dessas noites em que tudo que eu esperava era sentir qualquer coisa que fosse frio-calor-dor-paixão-carinho-saudade-tristeza-solidão. Quando me beijou senti em sua boca o mesmo gosto amargo de todas as bebidas e cigarros que havia consumido até aquele momento. E eu não me importava porque do jeito como você me beijava, você falava com a minha alma enquanto suas mãos tentavam revelar todos os mistérios que eu escondia. Tentei gritar, falar, tocar, mas o medo me paralisava porque o mais ínfimo movimento poderia destruir tudo. Na minha mente só o seu rosto (que ainda não consegui decifrar) e o desejo de decorar cada movimento seu e guardar a lembrança daquele instante para sempre já que para sempre não existe fora da memória. Seu silêncio me intimida, suas palavras me ferem e sua distância me assusta. E eu ainda espero o momento que você me (re)encontre e me pegue pelas mãos. Tenho medo de quando esse dia chegar e me apavora a possibilidade de que tudo que tenho é a lembrança de uma noite. Ao menos, medo é um sentimento.

Um comentário:

Ludmila Clio disse...

é... medo é um sentimento...
lindo texto!